quinta-feira, 16 de outubro de 2014

RELIGIÃO E CULTURA


  1. Como encarar a cultura? Como a igreja deve se relacionar com ela? 
  2.  Devemos pegar a cultura e trazê-la para dentro da igreja, correndo o risco de entrarmos num sincretismo ?
  3. Ou devemos abandoná-la por inteiro e vivermos dentro da bolha cristã?Eram esses tipos de perguntas que os apologistas, os defensores da fé, tentavam responder.
É importante, antes de mais nada, explicar que no início esse debate girava mais em torno da filosofia, sobre o uso do conhecimento filosófico dentro da igreja.
Temos na época dos apologistas duas abordagens, duas formas de tratar o assunto:
  • Com clemente de Alexandria e Orígenes
Clemente, como um homem de Alexandria, um dos berços da filosofia, foi profundamente influenciado pela filosofia.  Assim, os conhecimentos filosóficos para ele eram de grande valor.
Quando ele era perguntado se o cristão poderia ou não fazer uso da cultura, ele respondia o seguinte:
“ Se alguém precisa de comida, deixem-o ordenhar a ovelha, se precisa de roupa, dexem- o tosquiá-la , da mesma forma, dexe-me usufruir da erudição grega.”
Ele achava que todos os filósofos pertenciam aos cristãos, que a filosofia era dos cristãos, que precisavam ser usufruídos pela igreja e não jogado fora.
Aparece Justino Mátir e diz: “Onde quer que tenha verdade ela pertence a nós”
Ele tem então o mesmo pensamento de Clemente de Alexandria, e assim também terá Orígenes que foi o sucessor de Clemente.
Por tanto, essa é uma atitude de integrar a cultura ao cristianismo.
2 - A outra atitude é a de Tertuliano, ele é uma grande figura da historia da igreja, advogado e era um verdadeiro debatedor, orador, pregador, dogmático e forte em suas posições, ele dizia:
O que tem Jerusalém com Atenas? O que que tem a academia com a igreja o que tem o hereges com os cristãos?”
Ele defendia o total afastamento da igreja com a cultura.
Para ele, o cristianismo era basicamente um movimento contracultural, que recusava deixar-se contaminar, de qualquer forma, pelo contexto mental e moral no qual se encontrava arraigada.
Qual das duas posições está correta?
Existem perigos nas duas:
Na primeira:
O perigo de haver um sincretismo. Uma mistura de pensamentos, para a época do debate, a filosofia ter mais lugar que a Bíblia, bem como a psicologia. Para nós hoje, olhando a cultura de modo geral, seria, basicamente o que vemos em muitas igrejas, a cultura acima da Bíblia. Regras culturais sendo colocadas acima da Bíblia como parâmetro de análise Bíblica ou vivência cristã.
Na segunda:
Corremos o perigo do isolamento total, “A bolha cristã.” Não se pode dialogar com a cultura. 
Mas o cristianismo é racional, e precisa dialogar racionalmente.
É importante destacar, que aqui a igreja era uma só. Não eram várias igrejas, como hoje, cada uma com seu pensamento. O que alguém falava era importante para o outro também.
O problema do encaixe do cristianismo na cultura. Classificação de Richard Niehbuhr:
      Cristo contra a cultura – Tertuliano
      Cristo da cultura – Eusébio de Cesaréia, outro apologeta, e pai da história da igreja.
      Cristo acima da cultura – Clemente de Alexandria, Orígenese Tomás de Aquino.
      Cristo e cultura em paradoxo – Lutero : “Há uma tensão contínua, vai ser sempre assim, aceite-a.”
      Cristo, o transformador da cultura – Calvino e Agostinho
Agostinho elabora um pensamento a qual é denominado “ Apropriação crítica da cultura clássica”, para ele, a situação era comparável à fuga de Israel do cativeiro no Egito, à época do êxodo. Onde, embora os hebreus tenham deixado para trás os ídolos do Egito, levaram consigo o ouro e a prata do Egito para que pudessem fazer um uso melhor e mais apropriados dessas riquezas, que assim estavam disponíveis para servir a um propósito mais nobre que o anterior.
Mas algo que precisamos saber também, é que, grande parte da rejeição de muitos cristãos para com a cultura nessa época, os anos 40 d.c, é porque o Cristianismo por esses tempo, havia estabelecido uma presença significativa em Roma. Porém, sua crescente força numérica levou a tentativas periódicas de suprimi-lo pela força. Por vezes, essas perseguições era locais, como no norte da África, em outros eram adotadas por todo o império Romano. Por esse motivo, muitos cristãos tinham grande rejeição em relação à cultura clássico-romana. Essa cultura pertencia ao opressor, que estava determinado a exterminar o cristianismo. Tertuliano viveu este contexto. Por tanto, não era de admirar o seu posicionamento.
Pois bem, vamos adiante,
Quero antes de mais nada dizer que não estou aqui para defender um ponto de vista. Mas sim, levar-nos à reflexão.
Será que Cristo deseja que abandonemos inteiramente a cultura?
Quem criou a cultura?
Tudo o que há na cultura é ruim, nada nela presta?
Um crente pode assistir um filme de Hollywood?
Amados, todo esse debate gira em torno de princípios. É importante deixarmos uma coisa. Deus criou o homem e deu a ele entendimento, racionalidade, não apenas aos cristãos, mas a todos. Quão importantes são as reflexões de Platão, de Aristóteles, de Sòcrates. Quão belas são as poesias de Camões, quão bons são os livros de Aluísio de Azevedo, de Machado de Assis, do Frei Betto, do Leonardo Boff. Nenhum destes é evangélico. Alguns nem são cristãos. Fico a pensar, boa parte dos roteiristas de filmes americanos não são evangélicos, mas fazem cada filmes esplendorosos que marcam nossas vidas. Será que essa capacidade foi dada pelo demônio?
Precisamos ser realistas, precisamos pensar racionalmente também. Deus deu entendimento ao homem, não apenas aos evangélicos, Deus deu também entendimento a Platão, a Sócrates, a Aristoteles, Santos Drummond, Pitágoras, e outros mais.
Será que nada disso presta? Será que não podemos fazer uso de seus pensamentos ou ferramentas?
Quem criou o avião era crente? Se não, não podemos andar de avião?
Quem criou as cadeiras que estamos sentados eram crentes? Se não, não podemos sentar nessas cadeiras?
Quem escreveu o nosso livro de química era crente? Se não, então não podemos fazer uso dele, para o nosso conhecimento?

Analisemos 1º Coríntios 8: 1- 13

No texto lido, Paulo está falando à igreja sobre algo muito interessante. A qual Moody explica em seu comentário, ele diz:
Carnes sacrificadas a ídolos eram as sobras dos animais sacrificados aos deuses pagãos. Quer um animal fosse oferecido como sacrifício particular ou público, partes da carne sobravam para o ofertante. Se fosse um sacrifício particular, a carne podia ser usada para um banquete, ao qual eram convidados amigos do ofertante. Se o sacrifício fosse público, a carne que sobrava, depois que os magistrados retiravam a sua parte, podia ser vendida aos mercados para revenda ao povo da cidade. Os problemas, pois, eram estes: 1) Podia um cristão participar da carne que fora oferecido a um falso deus em uma festa pagã? 2) Podia um cristão comprar e comer carne oferecida aos ídolos? 3) Podia um cristão, quando convidado á casa de um amigo, comer carne, que fora oferecida aos ídolos?

Mas Paulo não condena comer a carne, pois o pecado não está na carne, a carne foi feita por Deus. E Paulo leva o povo a uma análise racional. Ele diz, só existe um Deus, não há outro, e tudo foi feito por ele, a carne foi feita por ele.
Assim também é com muitos aspectos culturais, tais como as músicas, as artes que consideramos impuras. Em si não o são. Pois Deus deu ao homem a capacidade intelectual para cria-las.
No entanto, Paulo diz: v – 7 – Que a contaminação vem sobre alguns que por familiaridades com os ídolos, comiam a comida sacrificada como se fosse a um outro deus e assim s contaminavam.
A grande questão aqui é, se conseguimos desassociar essa ideia de “dedicada a outros deuses”  com o fato de que não há outros deuses e de que a arte também é uma benção divina, nada veremos demais em utilizarmo-nos da boa arte, da boa música, da boa poesia.
Mas,se isso me enfraquece na fé, se me afasta da comunhão com Deus, se não me trás paz. O melhor é que não coma, ou escute, ou faça qualquer outra coisa.
Então o primeiro princípio é: Tudo foi criado por Deus, podemos nos utilizar, porém, se nos faz enfraquecer na fé, o melhor é que não utilize.
A outra questão que Paulo aborda é: O cuidado com aqueles que podem se escandalizar.
Se há um irmão que pode ser escandalizado porque estás a comer carne sacrificada, o melhor é que não coma.
Por tanto o segundo princípio é: Zele pela fé do seu irmão.
Assim amados, mesmo que de forma rápida, o que podemos entender é que, a cultura é algo Divino. Não podemos demoniza-la, dizer que tudo é do diabo. A boa música não vem do diabo. A boa poesia não vem do diabo. A boa arte não vem do diabo. Deus deu ao homem, sua criação feita à sua imagem e semelhança o entendimento necessário para cria-las. Isso se chama GRAÇA COMUM.
O que devemos vigiar é: Será que nelas em sí, ou utiliza-las em sí tem algo que contrarie os princípios bíblicos? Será que se eu me utilizar disso, irei ser enfraquecido na fé? Será que poderei escandalizar meu irmão?
Tudo isso deve ser analisado. Mas vigiemos para não demonizar aquilo que Deus deu ao homem capacidade para criar.

Pr.Natan



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